Lana Del Rey: Born To Die

De todos os milhares (milhões?) de textos produzidos sobre a Lana Del Rey nas últimas semanas, apenas um deles passava pela minha cabeça ao ouvir o álbum de estreia da cantora, vazado na semana passada e lançado na última segunda. Em mais uma das deliciosas provocações do Popjustice, um pedido bem simples era feito:

Uma nota aos Jornalistas de Música Alternativa com problemas com Lana Del Rey

Oi!

Nós estamos cientes que vocês andam tendo problemas com a Lana Del Rey há algum tempo já. Quando um relacionamento não está funcionando, às vezes é difícil seguir em frente, mas só queremos que vocês saibam que está tudo bem em querer recomeçar do zero. E talvez a hora seja agora. Talvez seja a hora de deixar a Lana Del Rey. E isso é normal. Não se sinta culpado. Ela está segura nos braços do pop.

A provocação parece boba num primeiro olhar, mas talvez diga mais sobre esses últimos 6 meses do que qualquer outra coisa. Porque se há uma coisa clara nessa história é que muitos erros foram cometidos pela tanto “imprensa musical alternativa”, quanto pela própria Lana e sua gravadora. O maior deles – estampado por todo “Born To Die” – foi “Video Games” ter sido descoberta, por intenção da gravadora ou não, pelos indies/hipsters/formadores de opinião/etc. Quer dizer, dá para imaginar que seu olhar sobre Lana Del Rey fosse bem diferente se o primeiro lugar onde você tivesse lido sobre a cantora fosse a Billboard e não a Pitchfork. Ou o Idolator, ao invés do Gorilla Vs. Bear. O Papel Pop e não o Trabalho Sujo, numa versão brasileira. Se Lana tivesse sido marketeada como uma futura estrela pop qualquer e não como uma Cat Power que curte hip hop, talvez tudo tivesse sido diferente.

No entanto, “Video Games”, como todo crossover hit , confundiu as coisas. É uma música linda, sem nenhuma dúvida. Só que fez sua autora existir, em toda sua glória memética, em mundos com ethos completamente diferentes. Por mais que todo mundo ache demais que a Adele faça sucesso cantando “música de verdade” (mesmo parecendo Shania Twain e Celine Dion) ou que a Lady Gaga “realmente saiba compor”, autenticidade não é exatamente um valor que esteja em alta no pop. Ninguém entra em modo troll no twitter porque a Katy Perry não alcança ao vivo metade das notas que o Dr. Luke e o ProTools dizem que ela canta. Todo mundo está pouco se lixando para o fato da Ke$ha ser, no fundo, uma garota bem família e não vejo ninguém tendo problemas de consciência por continuar achando a bunda da Rihanna demais, mesmo se amanhã ela vier a público e explicar que o popozão é de plástico. No pop, quem perde tempo discutindo autenticidade, deixa de lucrar. Lana, por mais atordoada que pareça, sabe disso e até brinca na faixa mais descartável do disco: “O dinheiro é a razão de existirmos. Todo mundo sabe. É um fato. Beijinho!”.

Então, porque a gente realmente se preocupa se os lábios, o vídeo, a voz e a história são falsos, quando “Born To Die” é apenas mais um álbum pop, tão correto e grudento como tantos outros? Não é como se algo aqui fosse muito diferente de uma Ke$ha gravando com Danger Mouse, por exemplo. Há uma personagem ótima, 3 ou 4 bons singles, umas 2 faixas que mereciam um remix e um monte frases desconexas e tuitáveis. “Born To Die” não é, obviamente, um acontecimento tipo um “Thriller”, mas também não chega nem perto de ser a encarnação de tudo que é mais horrível, como alguns insistem. É tudo farsa e quando a própria Lana entende isso, como na faixa-título, “Born To Die” parece o mais divertido dos álbuns.

Tal qual uma Madonna Louise ou uma Stefani Germanotta anos atrás, Lizzie Grant ainda tem uma longa jornada até sua persona fale mais alto que o barulho de seu passado. Nada que o sucesso e uma boa relações públicas não resolva. Como parte dos tais “alternative music scribes” que o Popjustice cita na sua carta, eu digo: pode ir, Lana. É a velha história, it’s not you, it’s me.