Curumin | Arrocha

Curumin

Arrocha

[Urban Jungle; 2012]

7.2

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por Matheus Vinhal; 04/05/2012

Como falou o Lívio sobre “Selvage”, o inevitável hit de “Arrocha”, seu terceiro disco, Curumin é como um curinga no cenário brasileiro de 2012. Porém, se há tanto a possibilidade de se manter como um tesouro escondido da música brasileira – o baterista nascido para o estrelato – assim como também há a possibilidade se tornar de fato um dos mais conhecidos nomes da sua geração, “Arrocha” demonstra como, no fim das contas, toda essa discussão é secundária. Curumin está em “Arrocha” fazendo sua música como se não houvesse crítica, e está certo. Nesse ponto, há em “Arrocha” uma audácia quase cega, que é ao mesmo tempo seu maior trunfo e onde o disco se mostra mais vulnerável.

Como tem acontecido com grande parte dos discos lançados por essa geração, a cada novo álbum vemos uma melhoria significativa na produção, na maneira como cada instrumento soa, assim como na ambientação (ou falta proposital de uma) de cada faixa. Em “Arrocha” não é diferente: suas escolhas sonoras são excelentes. Faixas como “Treme Terra”, “Tupãzinho Guerreiro” ou mais especificamente o início de “Doce” mostram como Curumin busca uma sonoridade específica e a consegue sem muita dificuldade. Talvez seja esse o melhor aspecto de “Arrocha”: o som, sua produção. Como falei, nada de muito diferente do que vem acontecendo nos discos mais recentes dos parceiros do músico paulista.

Falta em “Arrocha”, no entanto, um desenvolvimento maior da composição que Curumin já apresentava tanto em “Japan Pop Show” como em “Achados e Perdidos”. Se o seu segundo disco se mostrava um álbum que se encaixava num contexto de evolução em relação ao seu predecessor, numa sonoridade cada vez mais própria, em “Arrocha” não há tantas correções de rumo. Curumin decidiu manter o curso, ainda que haja novos elementos, especialmente na parte das letras, onde há menções a um universo mais ligado à natureza. Se em Japan Pop Show havia (ao lado das faixas mais tradicionais sobre, digamos, essas coisas de amor) uma temática mais política (em faixas como “Mal Estar Card”, “Kyoto”, “Caixa Preta”), em “Arrocha” há uma temática mais voltada para a relação ou uma associação direta com a natureza. Esse tema é, no entanto, abordado por Curumin de maneira extremamente individual e singular, sem cair na mesmice tão costumaz e perigosa do assunto. Talvez seja nesse ponto que “Arrocha” acrescenta de fato algo novo à música de Curumin, e é também onde há mais experimentação no disco (à maneira do músico, quer dizer, uma experimentação suave).

Mais que original ou acessível, a música de Curumin (desde seu primeiro álbum) possui algo que variados artistas dariam ou demoram muito para alcançar: a naturalidade. Curumin parece não se esforçar muito para que sua música soe como soa, não parece haver afetação no seu modo de compor. No entanto, nada disso é realmente novo ou específico a “Arrocha”. Há, sim, uma grande habilidade em criar boas frases melódicas, bons refrões, mas também é difícil creditar tal habilidade ao novo disco – basta lembrar que Curumin já criou trechos geniais como “cadê o mocotó?” em “Achados E Perdidos” ou “divide o dindim” em “Japan Pop Show”, por exemplo, e que, se compararmos as faixas correlatas de cada disco (os hits Guerreiro/Compacto/Selvage; as instrumentais “Samba Japa”/”Salto no Vácuo com Joelhada”/”Tupãzinho Guerreiro”; as canções de amor “Vem Menina”/”Misterio Stereo”/”Doce”) veremos que em “Arrocha” não há tanta maturação quanto houve entre o primeiro e segundo disco, ainda que haja por volta de quatro anos entre os dois últimos álbuns.

“Arrocha” traz um Curumin em boa fase, mas a mesma boa fase de sempre. É um disco prazeroso de se ouvir, tem seus bons momentos – na minha opinião, cada início e fim das canções, os trechos e músicas instrumentais, os hits “Selvage” e “Passarinho”, sem contar a força estranha que movimenta “Treme Terra”. No entanto, apesar de você sair cantando vários trechos do disco, parece faltar em “Arrocha” um apuro quase supérfluo, a polida final na prataria, mas que, na sua ausência, tanto revela do que falta para Curumin atingir um novo patamar na sua carreira, destinada desde sempre ao estrelato.