Entrevista: MC Maromba

Apesar do nome, ele está um pouco longe de protagonizar as cenas cariocas que estão, por exemplo, em “Retrato de um Playboy”, de Gabriel O Pensador ou em “Maromba”, do +2. Mas, de alguma forma, Adolfo Luiz de França Jr., o MC Maromba, dialoga muito bem com essas músicas. Híbrido de Mamonas Assassinas com Raimundos, Maromba gargalha ao explicar suas influências (“‘Só No Forevis’… Esse álbum da época do Rodolfo me deu muita inspiração. Ainda bem que os caras não tão vivos pra escutarem isso”). Aliás, o MC está quase sempre gargalhando. Não à toa, uma edição esperta do “Pânico na Band” deixou Maromba e seu fiel escudeiro DJ Coringa em uns 30 segundos de loop de gargalhada (o funkeiro concorre no quadro “Funk Zica da Comunidade“).

Além dos exemplos citados, as letras de Maromba evocam uma ironia muito conhecida por quem se antenou nos raps de Ramon Moreno, o De Leve (que manifestou no Facebook querer conhecê-lo). Em comum, a opção pelo humor para tirar um sarro dos personagens que infestam a cultura pop e, por quê não, do próprio gênero.  As garrafas Dolly, a Paraty anos 90 e os mamilos desengonçados de alguns figurantes no clipe de seu último hit, “Quem é o teu homem?”, não negam. De Bonsucesso para um sucesso nove anos mais tardio que sua estreia nos palcos do funk, eis MC Maromba com mais de um milhão de visualizações no You Tube e em um momento em que o funk não sabe se faz pancadão ou se “naldaliza” suas batidas para ficar mais radiofônico.

Fita Bruta: O MC Maromba é gordinho e faz cinema. Me parece um personagem bem construído.

MC Maromba: É por aí (risos). Não vivo ainda do funk. É uma brincadeira séria que eu faço. É uma grande loucura que eu fiz uma galera mais louca ainda embarcar. Mas eu ainda assino minhas obras de audiovisual como Adolfo França.

Quanto falta para terminar a faculdade?

MC Maromba: Pretendo me formar esse semestre. Tô fazendo duas disciplinas só e tá sendo muito mais difícil do que quando eu fazia sete, oito disciplinas. Maior correria. É estágio, é um mundo paralelo que eu vivo no funk… Faço um trabalho que música e imagem andam junto. Então, é uma brincadeira séria em que eu invisto e pretendo colher e viver dessa parada. Como tem uns malucos me apoiando, eu tô tocando esse projeto.

Não imagino que deva ser muito fácil pra você se infiltrar em um meio como o funk que, ainda muitas pessoas achem amador, é cercado de empresários, agentes e acordos. 

MC Maromba: Pô, não é fácil, não. É muito difícil fazer um bagulho de sucesso no funk. Não depende muito do talento. O que conta é o trabalho que o empresário vai fazer. É muito difícil viver de cultura, da arte. Existe poucos funkeiros que vivem do funk, assim como no esporte. As pessoas criam o arquétipo do milionário, mas aquilo é uma minoria, uma ilusão. Tem que ser feito um trabalho bem pensado, tem que investir dinheiro e, assim, há seis anos atrás eu tomei a frente de tocar esse projeto sério e tá dando certo por causa do trabalho, não pelo talento. Acredito muito no personagem e, usando a minha criatividade e a minha facilidade de vender trabalho, tá dando certo.

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O que você ouviu que resultou no Maromba? Quando ouvi a primeira vez, a primeira coisa de que eu lembrei foi do De Leve. Conhece?

MC Maromba: Não conheço pessoalmente, mas ouvia o trabalho dele. Aquela letra [canta tentando se lembrar] “É o terror da família quando ‘cê cola com a filha / só porque cê é Largado”,  de “Largado”, eu me amarrava. Escutava muito esse rap e me identificava. Era como o carioca anda, era o real do dia-a-dia dos jovens daqui.

Desde os 15 anos eu faço minhas performances em chopadas, eventos do tipo… Eu tenho 24. São quase nove anos. Descobri que tenho talento com isso, com o funk, na adolescência. Numa época em que a gente passa por uma grande metamorfose e eu escutava rock, samba e sempre fui muito mais excêntrico do que os adolescentes da época. Sempre fui muito eclético. Mas eclético de personalidade. Muitos dizem que eclético não tem personalidade. Eu tenho a minha, tento colher o melhor de cada estilo. Na época, eu escutava muito Mamonas Assassinas… Tive a inspiração dos Raimundos, principalmente por causa do álbum “Só No Forevis”… Esse álbum da época do Rodolfo me deu muita inspiração. Ainda bem que os caras não tão vivos pra escutarem isso [gargalha]!

O cinema não tem participação nisso? Não te influencia?

MC Maromba: Pô, bicho. A influência é que eu consigo transpôr tudo o que eu quero dizer nas letras pras imagens. Então tendo o domínio de uma linguagem eu consigo produzir, dirigir e num resultado final do jeito que eu quero. Eu roterizo, dirijo e fica do jeito que eu quero. Então, parte desse sucesso que eu venho tendo na internet parte disso: eu tenho ideias, crio letras, monto piadas e passo as piadas em forma de audiovisual.

Uma das coisas mais sensacionais de algumas músicas suas são as intervenções do DJ Koringa. A tradução do proibidão para a versão limpa de “p*rra” para “poxa” seria sem graça se não fosse tão escrachada como é na voz dele. Como você o conheceu? Faz muito tempo?

MC Maromba: O Koringa eu conheço há 8 meses. Ele era super acanhando. Era apenas uma voz conhecida no mundo do funk, ele fazia algumas vinhetas.

Ele era muito conhecido já no Rio?

MC Maromba: A voz dele, na verdade. Conheci o Koringa num encontro de uma webrádio, a Rádio Mandela Digital, que é muito conhecida na internet… Tem mais de 300 mil seguidores no Facebook. Então, ele tava no cantinho, com um monte de gente ao redor pedindo pra ele repetir algumas frases e perguntei quem era ele e me informaram que era “o cara que faz as vinhetas”. Aí, eu comecei a pedir pra ele falar as coisas. Aí ele veio “aí, Mano Maromba, tá mais acessado que o Red Tube, hein, viado!”. Caraca… que figura é essa! Que dentes são esses! Ele era muito caricato, que isso! Virei fã na hora. Peguei esse vídeo, joguei no meu canal e a parada bombou. E eu já tive a visão de colocá-lo em um próximo trabalho que eu fosse fazer. E deu no que deu: o videoclipe de “Lindo de Bonito”. A parada bombou, ele criou gosto de aparecer, começou a ganhar mais namorada (gargalhadas). A vida dele mudou. Sempre descubro uma rapaziada bem caricata pra colocar nesses meus projetos.

O que você acha do funk que você acaba satirizando em seu clipe “Quem é o teu homem?”, o chamado “Funk Ostentação”?

MC Maromba: As baladas em SP são as melhores do Brasil… No Rio tem boas baladas, ou melhor, nights também… Você sabe, as pessoas em São Paulo investem muito dinheiro nesse  tipo de lazer, em bebidas, carrões. No Brasil todo, muitas deixam de comprar coisas necessárias para investir em bens, para “causar”. No Rio tem uma relação dos bailes com a favela (e com o tráfico e com uma certa banalização do sexo) e as letras são escrachadas mesmo. É realidade. Em São Paulo se fala da ostentação, do consumismo e é realidade da mesma forma. Influencia a molecada da mesma forma que o conteúdo do funk do Rio. Se é bom ou ruim, é outra história. É como o “probidão”: há quem entenda como apologia. Mas mentira o que os caras contam nas letras não é. Nós temos que ouvir mais isso, na verdade. Dar mais atenção, na verdade.

Mas o tipo de peso dado ao funk é outro, não é? O funk de São Paulo não te parece mais sério ou menos descolado?

MC Maromba: No Rio é algo mais dançante. Em São Paulo é algo perto do hino. Letras longas e cantam no baile com as mãos pro alto e com muito louvor. Há uma bandeira. E é bem parecido com o proibidão do Rio, só que com outras palavras.

Você já está tocando em rádios aí no Rio? 

MC Maromba: A “Lindo de Bonito” é executada ainda aqui no Rio, em São Paulo, em Belo Horizonte e em Vitória. “Quem é teu homem” já está tocando também.

Já dá pra ser reconhecido nas ruas?

MC Maromba: O reconhecimento nas ruas… vou ter que parar de andar de ônibus para comprar… uma bicicleta. Entendeu? Vou ter que arrumar um dinheiro pr’uma bike para poder ir pra faculdade e pro estágio. Eu já to ficando muito oprimido com as pessoas olhando pra minha cara, entendeu (risos). É legal, mas é estranho. Ontem, duas meninas me pediram pra tirar foto comigo no ônibus. Os passageiros não entenderam nada (risos). Tem doidos na internet que me odeiam… Já tô ficando meio preocupado com isso. Em frente a minha casa tem um colégio municipal e a molecada já me reconheceu. Já sabem o endereço da minha casa (risos). Se fosse só fã, beleza. Mas tem uns caras que me odeiam.

Odeiam?

MC Maromba: Mas eu adoro! Tem uns comentários que eu adoro. Falam sobre os gordinhos, sobre a minha fisionomia, me chamam de gordo. e tal. Eu tô com o maior barrigão mesmo! Barrigão de chopp, mas eu não sou tão gordinho, não. Eu até gostei disso. Vou até comer mais pra poder criar esse personagem que as pessoas veem, um “maromba gordo”.

De onde vem o apelido?

MC Maromba: O apelido vem da adolescência. Eu gostava muito de esportes. Mas isso não reflete mais minha personalidade, eu sou um cara sedentário! E a pessoas precisam aceitar isso, pô! (risos)

Rápido: diga cinco músicas indispensáveis para entender o MC Maromba.

MC Maromba: Agora! “Vai Serginho” (MC Serginho), “Quer Bolete” (“Bolete”, MC Colibri)…  Vou começar a falar pra c… (risos)! Pode ter uma minha também?

Ok.

MC Maromba: “Tira o cu do meu dedo” [gargalha escandalosamente], “Charuto de carne”…

“Charuto de carne”?

MC Maromba: [canta para explicar] “Acende e puxa, prende e solta não quero que você largue. Fuma, fuma, fuma, fuma, meu charuto de carne” [gargalha mais ainda].

Falta um.

MC Maromba: Falta um? “Mama me olhando”, do Mr. Catra. Tá bom de açucar? (risos).