Fernanda Takai e Andy Summers | Fundamental

Fernanda Takai e Andy Summers

Fundamental

[Deck; 2012]

5.9

ENCONTRE: iTunes

por João Oliveira; 23/08/2012

Sempre gostei de Fernanda Takai. Fernanda Takai não é uma grande cantora. Tento explicar: é uma cantora que faz bem – às vezes muito bem – algumas poucas coisas. Entre elas está a habilidade de imprimir certa doçura melancólica nas baladas pop do Pato Fu ou, no pólo oposto, descambar eficientemente para o kitsch descompromissado de um “Capetão 66.6 FM” ou de “Uh Uh Uh, La La La, Ié Ié!”. Em 2007, ela teve ao mesmo tempo a coragem e a esperteza de se aventurar na “bossa nova”, no seu primeiro e bom álbum solo, “Onde Brilhem os Olhos Teus”, interpretando um repertório consagrado pela imortal Nara Leão. Coragem porque, pela primeira vez, sua voz seria o centro das atenções, mesmo com a tentativa de John Ulhoa, seu parceiro e produtor, imaginar uma bossa torta, repleta de penduricalhos. Já a esperteza foi escolher o repertório de Nara, outra cantora limitada, porém – e a diferença entre as duas é essa – genial na sua capacidade de dar diferentes personalidades, emoções e nuances às canções.

Toda essa história nos traz a Andy Summers, ex-guitarrista do Police, que aparentemente – diz o release – se inspirou na doce voz de Takai para compor as 11 faixas deste “Fundamental”. Summers, que anda sumido do mundo pop desde o fim de sua banda, escolheu se aventurar pelo avant-garde, trabalhando com Robert Fripp e lançando trilhas sonoras e discos influenciados pelo jazz e pelo new age (pois é). Confesso não conhecer sua carreira solo, mas é certo que aqui ele não mostra a versatilidade e brilhantismo pop de uma “Message in a Bottle” ou “Demolition Man”. Na maior parte do disco ele opta por uma abordagem clássica, embora muito menos inspirada, de trabalhos como “Jazz Samba”, de Charlie Byrd e Stan Getz – o que torna os sintetizadores e a produção frequentemente terrível do álbum uma contraposição estética ainda mais estranha.

A faixa-título que abre o disco dá o tom: a “cozinha” batucando burocraticamente uma bossa no piloto automático, tecladinhos etéreos e a guitarra serpenteando elegantemente como manda o figurino. Apesar disso – ou talvez por isso – o álbum já nos desarma ao remeter a territórios familiares. É um dos poucos momentos onde voz, melodia e arranjos formam um todo coeso, embora pouco criativo e indistinto. Dividido em duas metades, uma “brasileira” – com versões de Zélia Duncan, Ulhoa e Takai – e uma em inglês, “Fundamental” se mostra muito mais interessante em suas escolhas quando abandona a mistura bossa/jazz. Em “Sorte no Amor”, que investe numa latinidade genérica, mas eficiente, na sonoridade esparsa de “Smile and Blue Sky Me” e na bonitinha e econômica “Human Kind” a dupla acerta. Aliás, falta de economia é uma das faltas imperdoáveis aqui, com boa parte das faixas se alongando para além dos 5 minutos, martelando frases e arranjos que já não eram tão bons assim, para início de conversa. Outros problemas são as escolhas de timbres e uma produção que chega a dar vergonha alheia. “Chuva no Oceano” é quase um manual de como estragar uma canção perfeitamente agradável com timbres que remontam às piores fases da carreira de um Djavan, por exemplo.

Tirando alguns bons momentos, “Fundamental” tem certos defeitos…fundamentais. A falta de capacidade interpretativa de Takai, aqui sem as grandes músicas de Ulhoa e “de Nara”, confere uma monotonia emocional e sonora ao disco. Isso, aliado à indistinção melódica da maioria das canções de Summers e ao insucesso em transcender o DNA conservador, “cool” e contemplativo da bossa nova fazem deste um disco majoritariamente aborrecido. “Fundamental”, apesar do nome, e de ser no geral agradável, não escapa de ser um trabalho dispensável.